sábado, 26 de março de 2011

Literatura Popular

Tolkien, autor da trilogia “O Senhor dos Anéis” e do “O Hobbit”, é um dos meus escritores favoritos. Comecei a conhecer seu trabalho com cerca de 12 anos, no final da infância e ainda sem nenhum conhecimento dos que são considerados os grandes autores da literatura. Alguns anos mais tarde quando li “O Senhor dos Anéis” fiquei extremamente impressionado com a capacidade do autor de conduzir uma história de 1000 páginas sempre mantendo o carisma e a magia que envolve a obra.

Com o passar do tempo conheci a obra de vários outros autores, mas o único que realmente impactou meu gosto literário como Tolkien foi Enernest Heingway, cujo estilo é quase que o oposto do estilo de Tolkien. Apesar das diferenças de estilo, sempre considerei ambos os autores como mestres da literatura. A grande diferença que encontrei entre eles não foi o modo de escrever, mas o reconhecimento. Tolkien é reconhecido por uma legião de fãs, mas é quase que repelido por parte da crítica literária, que o considera um autor de segunda. Já Heingway tem também um bom numero de fãs - muito menos que Tolkien é verdade -, mas apesar de não ser um dos preferidos da critica literária, recebe desta o seu reconhecido valor.

A diferença de estilo entre Tolkien e Heingway é clara, tanto como o motivo de um agradar os quase todos os críticos e o outro não. Tolkien se dedicou a escrever sobre o tema que chamamos hoje de “fantasia”, era fã da literatura medieval, católico e para o mundo literário dos anos 50, que se deliciava com as obras da “geração perdida’ de Heingway, era antes de tudo um antiquado. Tolkien foi considerado um escritor de gênero e não um escritor de literatura verdadeira e nunca foi reconhecido por boa parte da critica literária. Seus livros foram e até hoje são classificados como infantis e até como artisticamente pobres pelos críticos mais ferozes.

Gene Roddenberry, roteirista e produtor americano que criou nos anos 60 a famosa série de TV “Star Trek”, certa vez falou que queria fazer um programa de TV no qual pudesse falar de sexo, imperialismo, Vietnã, feminismo e outros temas polêmicos sem alarmar a emissora e os espectadores, a solução para isso foi colocar esses temas em uma nave espacial no futuro. Sendo uma série de “ficção cientifica”, “Star Trek” nunca sofreu nenhum tipo de crítica por seu conteúdo político, porque tal como a “fantasia”, “ficção cientifica” é considerada um subgênero para crianças. Tolkien nunca gostou desse tipo de alegoria explícita que é encontrada em “Star Trek”, mas não tem como negar que no “O Senhor dos Anéis” os personagens estão envoltos em temas fortes como sacrifício, amizade, guerra, heroísmo, persistência, corrupção e uma série de outros que carregam profundas discussões existenciais, sempre sem perder o carisma e a magia que marcam a obra.

Ronald Kyrmse, um dos maiores especialistas brasileiros em Tolkien disse que “(...)O problema de Tolkien é que os críticos não têm com o que compará-lo, pelo menos na literatura contemporânea. Isso gera uma incompreensão que os leva a rejeitá-lo”. Pessoalmente, eu acredito que os críticos literários não gostam de nada que não esteja exclusivamente dentro do seu domínio. Sempre que eles se deparam com um autor popular como Tolkien, o julgam como inferior, porque se a ele fosse dado o devido reconhecimento significaria que teriam que admitir que sua legião de fãs possa debater literatura com eles, de igual para igual. Ou seja, Tolkien não é reconhecido por puro elitismo. Cabe lembrar que a profissão de crítico parte do pressuposto que você não tem condição intelectual de dizer por si mesmo o que é bom ou ruim, e precisa de alguém mais culto para fazer isso pra você.

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