segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Planeta dos Macacos

Uma coisa interessante no novo “O Planeta dos Macacos - A Origem” é que em determinado momento do filme você se pega torcendo pelos macacos, ou seja, torcendo contra os humanos.Chega certa hora da película que você começa a torcer por Cesar, um dos personagens principais do filme (que é um macaco).

Isso ocorre porque Cesar é um macaco camarada. Ele é brincalhão, ajuda o mocinho a conquistar a mocinha e é preso por defender um amigo doente. Apesar de ser muito agressivo (características comum de um chimpanzé), é um “boa praça”. Isso faz com que surja uma empatia com o macaco que em certo momento da história se revolta contra os maus tratos.

Conseguir identificar no outro algo que você tenha em comum, ajuda, e muito, a se colocar no lugar dele e entender o que ele sente. Quando um filme faz com que você sinta empatia pelo personagem ele acaba fazendo com que você fique triste ou feliz junto com esse personagem. Já no contrário, quando você não sente empatia pelos personagens, você pode gostar muito do filme, mas não vai compartilhar os sentimentos junto com o mocinho da história.

Reconhecer o outro como semelhante, uma pessoa (ou macaco, no caso do Cesar) que compartilha de sentimentos e emoções parecidas com as suas, é fundamental não apenas para torcermos pelo herói do filme, mas também para termos solidariedade com o próximo.

Se um Blockbuster pode nos fazer sentir empatia e consequentemente solidariedade com um macaco, talvez não seja difícil sentir o mesmo por indivíduos da nossa própria espécie, que se diferenciam apenas por não terem acesso ao consumo dos bens na mesma proporção que a gente. Ou talvez não, talvez um Blockbuster seja mais fácil de aceitar...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Lições da Crise

Vez ou outra surge um anuncio novo do fim do mundo. O ultimo foi o risco de calote das dividas americanas. Os republicanos não queriam de jeito nenhum aprovar o aumento do teto da divida americana e só aceitaram fazer um “acordo” depois que o Obama engoliu todas as suas reivindicações.

Alias, como explica PAUL KRUGMAN, colunista do NY Times (clique aqui para ler), já é de algum tempo que Obama aceita tudo que os republicanos querem. Chega a ser piada, imagine um dialogo entre eles:


“Vamos desonerar as camadas mais pobres e taxar os americanos mais ricos”, diz o Obama todo empolgado.

O Tea Party responde: “NÃO!! Seu comunista"

“Tudo bem, a gente faz o contrario" fala Obama, baixando a cabeça...

Ao mesmo tempo,na Europa, o FMI ensina a Grécia que para sair da crise o governo deve usar toda a grana possível para salvar as instituições financeiras e cortar gastos com tudo que é dispensável: educação, saúde, salário dos servidores, aposentadoria, etc ...

Se tem algo a ser aprendido com os governos da Europa, e agora com o dos EUA, é que não da para salvar as instituições financeiras em colapso e manter um “Estado de bem estar social” (Welfare State). A Europa fez sua escolha e colocou uma quantidade obscena de dinheiro para salvar bancos em 2008, agora faz seus cortes no orçamento.

Nesse ponto feliz é o Brasil, que não precisou escolher. Afinal aqui nunca existiu um estado de bem estar social!

Uma das poucas intrigas que tivemos decorrentes da crise foi uma briga do governo com o ex-presidente da Vale. Depois de pegar uma grana no BNDS, a Vale, contrariando Lula, demitiu mais de 1000 funcionários durante o auge da crise, no final de 2008. Isso exatamente quando "O Cara" anunciava que a crise no Brasil seria apenas uma "marolinha". Lula guardou rancor e fez pressão ate derrubar o presidente da empresa, anos depois. Agnelli foi muito defendido pela mídia brasileira, já que em suas mãos a Vale deve ter sido a única mineradora do mundo a fazer propaganda na TV. Mas isso é outra história ...

sábado, 23 de julho de 2011

♫ “Eu to voltando pra casa” ♫

 O que é mais dramático: a última semana de uma novela das 8 9 ou o carro do Rubinho, em 1º lugar (suposição), quebrando na reta final do GP de Fórmula 1 no Brasil? Errou. É a eliminação da Seleção Brasileira de Futebol na Copa América, especialmente qualquer uma a de 2011. Confirmei a suspeita no último domingo, logo após o pirata futebol brasileiro cair diante do autêntico futebol-menino-criativo-alegre paraguaio.

Jamais esquecerei daquele fatídico lusco-cofusco de domingo, quando, enquanto estudava, ouvi a incredulidade de um narrador (creio que da Band) expressar a trágica derrota de um dos principais símbolos (senão o maior, superando a bandeira nacional e a corrupção nativa) patriota desta futebolística nação. Algo irreparável (como o texto épico-esportivo é lindo e comovente!)!


Bem, para ser sincero, eu nem sequer lembrava que a Seleção Federal Brasileira existia jogaria. Foi a voz de lamento e o berreiro do narrador, vinda de uma TV próxima, que me atentou para o momento histórico que eu deixara de presenciar: a Seleção ficara em 8º lugar na Copa América, o que deveria ser proibido por decreto pelo pela presidente Dilma.

Não sei onde eu estava quando o presidente Collor foi convidado a sair de sala se retirar de Brasília, nem quando o Silvio Santos foi sequestrado, ou mesmo quando John Lenon sofreu atentado (até porque sou novinho e tenho rostinho de nenê). Também não sei o que eu fazia quando as Torres Gêmeas, artisticamente, retornaram com desenvoltura para o solo dos humildes. Sempre recordarei, porém (vocês não acham o porém mais charmoso do que o mas?), do que eu fazia quando a Amarelinha ficou pálida. Sinto-me envergonhado. Imaginem o que podem ter pensado os soberanos senhores Pelé e Ronaaaaaaallllddo!!! Que vergonha!

Fiquei sabendo espontaneamente mais detalhes do vexame à noite, na missa, onde encontrei com um colega de escola. Ele me revelou todos os detalhes da partida, tim-tim por tim-tim. Aliás, qualquer informação é detalhe para alguém que não acompanha futebol desde mil novecentos e Fluminense campeão brasileiro (da 1ª divisão).  “Quatro pênaltis perdidos”, disse ele. 


Na expectativa de que o meu colega tivesse se enganado, assistido a outro jogo do qual participara o Obina, fui ao YouTube. Confirmado: quatro pênaltis batidos como se a bola fosse um balde. Parecia que o Elano, Thiago Silva, André Santos e Fred desconheciam a importância que o futebol tem para o Brasil. Foi a única explicação que encontrei.

O esporte está tão penetrado na cultura e na vida em geral do brasileiro que arriscaria sugerir eleições diretas para a escolha dos jogadores e da comissão técnica. Seria uma medida democrática e reduziria desentendimentos em rodinhas de amigos sobre críticas às convocações dos atletas, por exemplo. Mas Porém, corre-se o risco de reais atletas deixarem de ir à Copa devido a habilidades de políticos profissionais. Não creio que o Sarney e o Tiririca saibam bater pênaltis melhor do que o Elano, Thiago Silva, André Santos e Fred... ou creio?

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Inteligência e Sabedoria

Você não precisa se deparar com o personagem do Matt Damon no filme “Gênio Indomável” para entender que inteligência é diferente de grau de escolaridade. Vez ou outra você encontra alunos do segundo grau que entendem e aplicam com facilidade conceitos e teorias que fazem alguns doutores terem de passar noites de estudo em claro para começar a se familiarizar.

A pessoa mais inteligente que eu conheci foi um amigo do segundo grau que era um gênio da matemática. Ele nunca terminou o mestrado, e mesmo assim hoje tem um emprego bom, trabalhando com o que gosta. Da mesma maneira tive vários colegas da faculdade que tinham inteligência de mediana pra baixo e que hoje são doutores.

Eu admiro muito e tenho prazer em trabalhar com pessoas de elevada inteligência, mas realmente sinto inveja quando tenho privilégio de conviver com alguém que possui uma das qualidades que mais admiro, a sabedoria.

Da mesma forma que existem pessoas extremamente inteligentes que não possuem elevado grau de escolaridade, existem pessoas extremamente sábias que mal sabem ler e escrever. No decorrer da vida encontrei muitas pessoas que “consomem” muito do que julgamos ”cultura”, vão sempre ao teatro, viajam por toda parte e mesmo assim ainda enxergam o mundo de uma maneira extremamente limitada, enquanto outras que nunca saíram de sua cidade natal conseguem dali enxergar com muita clareza quase tudo (alguém lembrou de Kant?).

Claro que para a maioria das pessoas (que não são como Kant) a busca da sabedoria é facilitada quando é possível dar-se o privilégio de enxergar o mundo de vários ângulos, viajando para vários lugares e lidando com pessoas e costumes diferentes. Mas, felizmente para a maioria da humanidade, a qual o luxo de ter tempo e dinheiro para viajar é algo inviável, o caminho da sabedoria deve realmente ser trilhado a partir da reflexão.

Infelizmente para a maioria dos “playboyzinhos”, inteligência e sabedoria não podem ser comprados com uma viagem, nem com um diploma.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Do ABC ao Quartel de Bombeiros

Depois de duas semanas sem ler ou escutar noticias sobre o Brasil, durante o merecido isolamento romântico da minha “Lua de Mel”, me deparo com inúmeras notícias sobre a greve dos Bombeiros do estado do Rio de Janeiro. De todas as noticias que tive acesso nas redes sociais e nos jornais online, a que mais me espantou foi ler que mais de 400 bombeiros tinham sido presos durante uma manifestação.

No final da ditadura militar no Brasil, um dos episódios mais interessantes e simbólicos foi a greve dos metalúrgicos do ABC paulista em 1980. A greve iniciou em março de 1980, durou mais de 40 dias e teve a participação de 160 mil trabalhadores, transformando-se num marco na história das lutas trabalhistas no Brasil.

Durante essa manifestação alguns dos líderes sindicais foram presos, inclusive um que anos depois se tornaria Presidente da República. No entanto, nada chegou perto das mais de 400 prisões ordenadas pelo governador Sérgio Cabral. Esse número é inédito na historia da luta sindical brasileira e um marco da crescente criminalização dos movimentos trabalhistas e sociais.

Felizmente, chegando ao Brasil, recebi a boa notícia de que a população tinha tomado posição em favor dos bombeiros presos e, diferente do governo estadual, os considerava como heróis e não como bandidos. Apesar disso, é preocupante como a criminalização dos grevistas pelo governador atingiu um patamar tão elevado.

O governador Sérgio Cabral tem o hábito de chamar os integrantes de qualquer tipo de manifestação contraria ao seu governo de "vândalos" e/ou “vagabundos”, mas depois de mandar o BOPE invadir o quartel tomado pelos grevistas e suas famílias o adjetivo de “vândalo” é merecido pelo próprio e não pelos grevistas.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Tim-tim: um brinde a...


Às vezes eu penso que se a Tim fosse um país e as regras da empresa constituíssem a Constituição (seria uma redundância?), o que seria de nós, povo/cliente/vítima da operadora? Haveria uma ditadura da anarquia? Leis-camaleão que mudam conforme a temperatura, a situação, o ambiente etc? Peemedebistas que adotam diferentes discursos em diferentes momentos e circunstâncias? Êê, como dizia seu José da roça, êê!

Desde dezembro de 2010 eu ligo constantemente para a Tim, não para bater papo ou jogar conversa fora (conforme jargão do mesmo seu José), mas para (TENTAR) solucionar problemas técnicos (resumindo beeemmm resumidinho mesmo). Das diversas horas, que somadas passariam de semanas ou meses (não duvidaria se chegasse à escala de séculos ou milênios), conversei com muitos (põe muitos nisso) atendentes. Alguns deles mal-educados, pela empresa ou pela família... ou por ambos- por umas três vezes chegaram a encerrar a ligação sem mesmo eu concluir a fala. O famoso desligou na cara (se o seu José tivesse telefone, provavelmente utilizaria esta expressão também)!

O tanto de protocolos deve ter feito com que o país, digo, a empresa tenha inserido um algarismo a mais na sequência numérica para futuros atendimentos. Resultado: nada. Bem, quase nada. Depois de muitos (põe muitos nisso) esforços, recuperei R$ 10 dos mais de R$ 20 cobrados indevidamente- uma das queixas é a respeito de ligações cobradas, mas não efetivadas, o que tem ocorrido com todos os moradores que eu conheço da Tim, grande seguidora e operadora da Teoria do Caos (a batida de asas de uma borboleta na China pode fazer com que o sinal do celular fique fora do ar por uma hora).

Depois de infinitas insistências, deixei de lado. Devo ter sido o único ou um dos primeiros a recuperar quase 50% das indevidas cobranças. Não sou (pelo menos ainda) presidente da República, Ziraldo ou Ronaaaaaaldo, mas fiz história. Ninguém, ou poucos, tem tanta paciência para repetir inúmeras vezes o mesmo assunto, reclamar de relatórios mal-registrados, suportar atendentes com má vontade, ouvir regras diferentes dependendo de quem atende, aquecer o ouvido esquerdo com o celular por horas em plena manhã/tarde de Páscoa, entre um belo ninho de pepinos e abacaxis.

Ameacei-os de ir à Justiça, ao Procon, a reclamar pessoalmente com o presidente do Supremo Tribunal Federal, a protestar na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Federal e até mesmo a falar com a minha mãe, mas tudo blefe, confesso. Ando sem tempo e com preguiça, pois será tanto esforço para reaver em torno de mais R$ 10... prefiro fazer com que a Tim gaste esse valor e muito mais através de papéis, impressões e serviços de postagem. Toda semana solicito gratuitamente o meu super-relatório detalhado de ligações!!! Um dia chegam...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Semana Santa

É bastante simbólico que no Domingo de Ramos, em que os cristãos começam a celebrar a Semana Santa, França e Itália iniciaram uma disputa diplomática, quando a França impediu a entrada em seu território de um trem vindo da Itália com cerca de 60 imigrantes tunisianos.

Não é de hoje que o Velho Continente dá sinais de senilidade, tomando atitudes xenofóbicas com relação a refugiados de países africanos e/ou muçulmanos que fogem da pobreza e buscam abrigo nos países europeus. O que essa briga diplomática bem no início da semana santa pode simbolizar é que o cidadão europeu típico, geralmente cristão, em momentos de crise econômica e apatia dos setores da esquerda, é facilmente seduzido pelo discurso da extrema direita e acaba colocando a culpa da crise nos imigrantes.

No Brasil, é política do governo dar, de tempos em tempos, anistia aos estrangeiros que vivem irregularmente no país, garantindo a eles acesso aos documentos necessários para trabalharem de maneira digna em solo nacional. Podemos nos orgulhar disso, mas devemos lembrar que não estamos livres do discurso preconceituoso da extrema direita. Só precisamos lembrar para onde se encaminhou o debate eleitoral ano passado e de como ainda existem pessoas dispostas a votar em políticos como Bolsonaro.

Como cristão, é triste ver que aqui no Brasil, como na Europa, é geralmente entre grupos de pessoas que se dizem seguidores de Cristo que o discurso da intolerância pregado pela extrema direita encontra terreno fértil. Conheço alguns ateus que dedicam boa parte do seu tempo livre a defender causas que se enquadram na mensagem de Cristo de amor ao próximo, e é pensando nelas que busco conforto espiritual quando vejo pessoas que se dizem cristãs proclamando palavras de ódio ao próximo.

No último show em São Paulo, Bono Vox, em um explícito elogio as políticas de distribuição de renda adotadas pelo governo brasileiro nos últimos anos, disse (em uma tradução livre) “O valor de uma sociedade pode ser medido na maneira em que ela trata os mais pobres e os mais frágeis”. Independente das críticas que podem ser feitas às políticas de distribuição de renda do governo e ao ativismo do Bono, a frase não deixa de ter seu valor. Devemos refletir qual é o caminho que queremos dar a nossa sociedade: se é o caminho do amor ao próximo (que hoje se traduz na defesa dos direitos humanos, no combate a desigualdade social e no fim da miséria), ou o caminho da intolerância, tão bem exposto nas políticas xenofóbicas do governo de Sarkozy, como nas palavras de intolerância que escutamos o deputado Bolsonaro pronunciar.

domingo, 3 de abril de 2011

"Mundo Pequeno"

Uma conhecida contava que vez ou outra, quando criança, o pai levava ela e sua irmã a Central do Brasil pela manhã, um dos horários mais cheios, com o propósito de mostrar para as filhas quem “trabalha de verdade no Brasil”.

Quando ainda na faculdade eu percebia que boa parte dos meus colegas já se conhecia ou tinham amigos em comum, uma vez que vinham de um número reduzido de colégios. Como eu morava em outra cidade todas as pessoas eram novas para mim, e tanto os poucos alunos que vinham do subúrbio, quanto a maioria que vinha dos bairros mais nobres (e da lista reduzida de colégios) eram igualmente estranhos no meu convívio.

Entrando no mercado de trabalho as coisas não mudaram muito e quase em toda reunião que envolve engenheiros e arquitetos de diferentes empresas eu presencio o encontro de antigos colegas de colégio e/ou faculdade que se saúdam com a famigerada expressão “mundo pequeno”. Para alguém que cresceu em uma cidade de 200 mil habitantes, e que já achava ela com um porte razoável, foi curioso ver que em uma cidade de mais de 6 milhões de habitantes são sempre as pessoas de mesma origem que ocupam as mesmas posições e logo eu percebi que o mundo não é pequeno, mas sim a renda que é concentrada.

Sendo filho de um imigrante que a vida o faz enquadrar-se no que os americanos chamam de “Self-Made Man” eu não posso negar que a ascensão social existe, mas ao longo da vida eu percebi que as pessoas que conseguem escalar economicamente são exceções a regra que diz que se você nasceu fora dos círculos economicamente melhores, é lá, fora desses círculos, que você vai passar a sua vida.

Na Universidade Federal, no curso de Engenharia (até hoje um dos mais elitistas), eu percebia que meus colegas se agrupavam em círculos de amizade que quase sempre refletia os bairros em que cada um morava e de tabela a condição financeira de cada um. Os poucos que vinham de bairros do subúrbio (o que não quer dizer que necessariamente tinha a situação financeira pior) é que tinham noção que toda a manhã uma massa de trabalhadores se aglomera nos trens da Central do Brasil e vai trabalhar de verdade.

Ao longo do meu crescimento profissional eu tento não esquecer que a sociedade é maior que o grupo com qual eu convivo profissionalmente, mas antes que eu me esqueça acho que devo dedicar uma manhã para uma visita a Central do Brasil, para ver o verdadeiro Brasil indo trabalhar.

terça-feira, 29 de março de 2011

Brincadeira de criança... e de adulto

Quando eu era pequeno, lá pelos 13 anos [velho é a cueca furada do seu pai], morava num lugar próximo a uma gruta, conhecida por todos os meninos da redondeza como “a caverna”, no meio de morros, mata e árvores de abacate e jabuticaba. Assustadora e misteriosa, ela guardava uma lenda que nos instigava. Havia um mito de que no fim da caverna, bicicletas, videogames e brinquedos em geral estariam a espera do grande valente que superasse o percurso fortemente protegido por aranhas e suas teias [isso, só de início, já que dragões e outros ferozes animais famintos e mal-intencionados estariam prontos para impedir a passagem de quem se atrevesse a avançar gruta a dentro]. A distância? Ninguém sabia. Só era possível ver mais ou menos dois metros [deve ser isso] até que a curva à direta trazia o breu que iniciava a nossa curiosidade... e medo.

Qual menino enfrentaria as aranhas-soldados e se lançaria a uma jornada jamais superada, pelo menos registro algum na história da humanidade provava o contrário. Logo na fachada, na parte superior, a ação do tempo e algumas plantas tentavam esconder um número. Se minha memória não me engana, era “1908”, ano extremamente distante para uma molecada de menos de 15 anos, o que aumentava ainda mais o medo de encarar o desafio.

Coragem não faltava para assustar os pedestres na rua com uma pequena corda e uma Espada de São Jorge, que se passava por cobra diante dos distraídos. Também não receávamos quando tocávamos as campaninhas da vizinhança e saíamos correndo. “A caverna”, porém, nos exigia muito mais do que ousadia e simples coragem.

Muito tempo passou, até que um menino grande, brigão e desvirtuado da escola ficou sabendo da gruta. A notícia logo se espalhou pelas redondezas. “Quer dizer que vão explorar a caverna?” “Quem?” “E vão retirar todos os brinquedos?” “Quando” Chegou o dia. Após uma manhã de aula, o menino-homem-brutalhão foi ao “sítio” desbravar as terras inexploradas e se consagrar o grande herói da humanidade. Inteligentemente, levou o isqueiro [com o qual acendia os próprios cigarros] e algumas folhas de jornal [provavelmente comprado na hora] para espantar os exércitos de aranhas e iniciar o longo e duro percurso até a recompensa final, sem previsão de retorno.

O mais difícil foi tomar coragem para entrar, mas depois de alguns minutos, ele entrou. Afastou os aracnídeos com a fumaça e em poucos segundos chegou à curva, onde, acreditávamos, ninguém havia chegado antes, desde o fenômeno do Bi Bang, há 13 bilhões de anos. “E aí, o que tem? O que você vê?”, questionávamos ansiosos. “Nada, não há nada”, disse ele. “Nada? Como nada?” “E os brinquedos? Qual a marca da bicicleta?” “Quais fitas acompanham o vídeo game? Há Fifa Soccer” “Qual é o vídeo game? Tem manete de seis botões” “Nada, gente, só tem água aqui e uma parede. Não há mais para onde ir”.

Silêncio. Profundo. Um profuuuuundo silêncio assolou os cerca de cinco ou seis meninos que ansiosamente aguardam notícias capazes de pôr fim a um dos grandes mistérios do Universo. Sobre as pirâmides do Egito, por exemplo, haviam teorias que esclareciam, ainda que parcialmente, os motivos das construções [uma delas é a de que extraterrestres fossem os autores das arquiteturas]. Sobre “a caverna”, porém, nenhuma publicação comentava a respeito. Nada. Um de nós sozinho tinha mais brinquedos do que na outra ponta da caverna.

O estranho sentimento de todos quando retornávamos para casa era parecido como o de um jovem brasileiro, cuja entrevista assisti há algum tempo num programa de televisão. Ele contava a experiência de retornar da Europa, onde foi em busca dos “brinquedos prometidos”. Desde garoto, ele ouvia comentários de que o Velho Continente reunia perfeitas condições para o progresso e para o conforto financeiro, motivo pelo qual diversos latino-americanos deixavam o país de origem. Com esta expectativa, assumiu fôlego para enfrentar aranhas-soldados e concluir que no próprio Brasil poderia conquistar brinquedos, conforme nos indica o crescimento do PIB em 2010, atingindo 7.5%.

No caminho do jovem brasileiro, tanto as aranhas foram verdadeiras, quanto uma poça de água após a curva, depois da qual nem bicicleta nem videogame se faziam presentes. O rapaz disse ter lidado com “problemas sociais tipicamente brasileiros”. Retornou otimista à terra-pátria convencido de que, mais do que lá, poderia construir um “parque de diversões”, inclusive com muita água, recurso abundante em nosso solo.

sábado, 26 de março de 2011

Literatura Popular

Tolkien, autor da trilogia “O Senhor dos Anéis” e do “O Hobbit”, é um dos meus escritores favoritos. Comecei a conhecer seu trabalho com cerca de 12 anos, no final da infância e ainda sem nenhum conhecimento dos que são considerados os grandes autores da literatura. Alguns anos mais tarde quando li “O Senhor dos Anéis” fiquei extremamente impressionado com a capacidade do autor de conduzir uma história de 1000 páginas sempre mantendo o carisma e a magia que envolve a obra.

Com o passar do tempo conheci a obra de vários outros autores, mas o único que realmente impactou meu gosto literário como Tolkien foi Enernest Heingway, cujo estilo é quase que o oposto do estilo de Tolkien. Apesar das diferenças de estilo, sempre considerei ambos os autores como mestres da literatura. A grande diferença que encontrei entre eles não foi o modo de escrever, mas o reconhecimento. Tolkien é reconhecido por uma legião de fãs, mas é quase que repelido por parte da crítica literária, que o considera um autor de segunda. Já Heingway tem também um bom numero de fãs - muito menos que Tolkien é verdade -, mas apesar de não ser um dos preferidos da critica literária, recebe desta o seu reconhecido valor.

A diferença de estilo entre Tolkien e Heingway é clara, tanto como o motivo de um agradar os quase todos os críticos e o outro não. Tolkien se dedicou a escrever sobre o tema que chamamos hoje de “fantasia”, era fã da literatura medieval, católico e para o mundo literário dos anos 50, que se deliciava com as obras da “geração perdida’ de Heingway, era antes de tudo um antiquado. Tolkien foi considerado um escritor de gênero e não um escritor de literatura verdadeira e nunca foi reconhecido por boa parte da critica literária. Seus livros foram e até hoje são classificados como infantis e até como artisticamente pobres pelos críticos mais ferozes.

Gene Roddenberry, roteirista e produtor americano que criou nos anos 60 a famosa série de TV “Star Trek”, certa vez falou que queria fazer um programa de TV no qual pudesse falar de sexo, imperialismo, Vietnã, feminismo e outros temas polêmicos sem alarmar a emissora e os espectadores, a solução para isso foi colocar esses temas em uma nave espacial no futuro. Sendo uma série de “ficção cientifica”, “Star Trek” nunca sofreu nenhum tipo de crítica por seu conteúdo político, porque tal como a “fantasia”, “ficção cientifica” é considerada um subgênero para crianças. Tolkien nunca gostou desse tipo de alegoria explícita que é encontrada em “Star Trek”, mas não tem como negar que no “O Senhor dos Anéis” os personagens estão envoltos em temas fortes como sacrifício, amizade, guerra, heroísmo, persistência, corrupção e uma série de outros que carregam profundas discussões existenciais, sempre sem perder o carisma e a magia que marcam a obra.

Ronald Kyrmse, um dos maiores especialistas brasileiros em Tolkien disse que “(...)O problema de Tolkien é que os críticos não têm com o que compará-lo, pelo menos na literatura contemporânea. Isso gera uma incompreensão que os leva a rejeitá-lo”. Pessoalmente, eu acredito que os críticos literários não gostam de nada que não esteja exclusivamente dentro do seu domínio. Sempre que eles se deparam com um autor popular como Tolkien, o julgam como inferior, porque se a ele fosse dado o devido reconhecimento significaria que teriam que admitir que sua legião de fãs possa debater literatura com eles, de igual para igual. Ou seja, Tolkien não é reconhecido por puro elitismo. Cabe lembrar que a profissão de crítico parte do pressuposto que você não tem condição intelectual de dizer por si mesmo o que é bom ou ruim, e precisa de alguém mais culto para fazer isso pra você.