domingo, 3 de abril de 2011

"Mundo Pequeno"

Uma conhecida contava que vez ou outra, quando criança, o pai levava ela e sua irmã a Central do Brasil pela manhã, um dos horários mais cheios, com o propósito de mostrar para as filhas quem “trabalha de verdade no Brasil”.

Quando ainda na faculdade eu percebia que boa parte dos meus colegas já se conhecia ou tinham amigos em comum, uma vez que vinham de um número reduzido de colégios. Como eu morava em outra cidade todas as pessoas eram novas para mim, e tanto os poucos alunos que vinham do subúrbio, quanto a maioria que vinha dos bairros mais nobres (e da lista reduzida de colégios) eram igualmente estranhos no meu convívio.

Entrando no mercado de trabalho as coisas não mudaram muito e quase em toda reunião que envolve engenheiros e arquitetos de diferentes empresas eu presencio o encontro de antigos colegas de colégio e/ou faculdade que se saúdam com a famigerada expressão “mundo pequeno”. Para alguém que cresceu em uma cidade de 200 mil habitantes, e que já achava ela com um porte razoável, foi curioso ver que em uma cidade de mais de 6 milhões de habitantes são sempre as pessoas de mesma origem que ocupam as mesmas posições e logo eu percebi que o mundo não é pequeno, mas sim a renda que é concentrada.

Sendo filho de um imigrante que a vida o faz enquadrar-se no que os americanos chamam de “Self-Made Man” eu não posso negar que a ascensão social existe, mas ao longo da vida eu percebi que as pessoas que conseguem escalar economicamente são exceções a regra que diz que se você nasceu fora dos círculos economicamente melhores, é lá, fora desses círculos, que você vai passar a sua vida.

Na Universidade Federal, no curso de Engenharia (até hoje um dos mais elitistas), eu percebia que meus colegas se agrupavam em círculos de amizade que quase sempre refletia os bairros em que cada um morava e de tabela a condição financeira de cada um. Os poucos que vinham de bairros do subúrbio (o que não quer dizer que necessariamente tinha a situação financeira pior) é que tinham noção que toda a manhã uma massa de trabalhadores se aglomera nos trens da Central do Brasil e vai trabalhar de verdade.

Ao longo do meu crescimento profissional eu tento não esquecer que a sociedade é maior que o grupo com qual eu convivo profissionalmente, mas antes que eu me esqueça acho que devo dedicar uma manhã para uma visita a Central do Brasil, para ver o verdadeiro Brasil indo trabalhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário